Chegamos ao final do tempo pascal!
Celebramos a Festa Solene de Pentecostes! A experiência pascal continua na
Igreja. O Espírito Santo nos foi dado para continuarmos a missão de Jesus!
Depois de uma semana ou novena de preparação, que coincide também com a semana
de orações para a unidade dos cristãos, viveremos a grande vigília e festa de
Pentecostes! Hoje o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no Cenáculo e a
Igreja iniciou a sua missão pública. Eis: é tudo! E, no entanto, isso é dizer
tão pouco! É muito mais rico e profundo o Mistério que hoje celebramos!
Com esta Solenidade encerramos o Tempo
Pascal, aqueles cinquenta dias que a Igreja celebra como se fosse um só dia,
santo e glorioso, o Dia da Ressurreição. Ao apagar o círio pascal no final da
última celebração deste domingo, recordaremos que essa luz nos foi entregue
para que sejamos aqueles que a levam pelo testemunho e pela palavra vida afora.
É o Senhor Ressuscitado que roga ao Pai que hoje nos doa o seu Espírito. O dom
do Espírito é fruto da Páscoa de Cristo: é no Espírito que nossos pecados são
perdoados, é no Espírito que o fruto da paixão e morte de Cristo nos é dado, é
no Espírito que somos transfigurados à imagem de Cristo Jesus, que nos
convertemos a cada dia, que somos enviados em missão, que compreendemos a
missão de Jesus, que experimentamos a força para dar testemunho.
Sem o Espírito tudo seria apenas uma
organização humana e de nada valeria para nós tudo quanto Jesus por nós disse e
fez! Se neste domingo, na primeira leitura, o Espírito aparece agindo de modo
tão vistoso e visível no Cenáculo de Jerusalém (como a tempestade, o terremoto
e a erupção vulcânica descritos no Sinai – cf. Ex 19,3-20), é para que nós
compreendamos que ele age em nós constantemente, discreto e suave como a brisa
que passou diante de Moisés e Elias, fazendo-os encontrar a Deus! Eis,
portanto: o Espírito é dado pelo Cristo ressuscitado, que o soprou sobre a
Igreja no próprio Dia da Ressurreição – como escutamos no Evangelho de hoje –,
e continua a soprá-lo sobre nós, no sinal visível da água no sacramento do
Batismo, e do óleo, na santa Crisma.
No Cenáculo, no dia mesmo da Páscoa, os
Apóstolos receberam o Espírito Santo para a missão, e daí saíram para anunciar
o Cristo Ressuscitado a todas as nações. No nosso Batismo, banhados pela água,
símbolo do Espírito, nós também recebemos em nós o Espírito de Cristo e nos
tornamos cristãos, templos do Santo Espírito, chamados a viver uma vida segundo
o Espírito de Cristo e, consequentemente, como animados e ardorosos missionários.
Por isso, o conselho de São Paulo: "Procedei segundo o Espírito e não
satisfareis os desejos da carne". O cristão, caríssimos, vivendo no
Espírito desde o Batismo, já não vive mais segundo a carne, isto é, segundo a
mentalidade deste mundo, segundo o pecado. Agora, ele é impulsionado pelo
Espírito de Cristo, crescendo cada vez mais nos sentimentos do Senhor Jesus.
Isto é a obra do Espírito, que nos vai cristificando, dando testemunho de
Cristo em nós (Jo 15,26), conduzindo cada um de nós e a Igreja inteira à plena
verdade de Cristo (cf. Jo 16,13). Portanto, é somente porque somos sustentados
pelo Espírito, que podemos crer com toda certeza que Jesus está vivo e é Senhor
e que Deus, o Pai de Jesus, é também nosso Pai, porque nos deu o Espírito do Filho,
que nos faz filhos (Rm 8,16).
Foi este Espírito Santíssimo que veio de
modo portentoso em Pentecostes, a festa judaica da Lei, 50 dias após a Páscoa.
O Espírito de amor é a nova lei, a Lei do cristão, pois "O amor de Deus
foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que nos foi dado" (Rm
5,5)! Anotemos o sentido profundo daquele acontecimento, cinquenta dias após a
Páscoa, em Jerusalém! O Espírito encheu de coragem e vigor os apóstolos, de
modo que eles abriram as portas e, ao lado de Pedro, o Chefe da Igreja, deram
publicamente testemunho de Cristo. A Igreja abriu as portas para nunca mais
fechar; falou por Pedro para nunca mais se calar! É, portanto, na força do
Espírito, que a Mãe Igreja iniciou publicamente sua missão de levar o Evangelho
a todos os povos. Mais ainda: o Espírito atrai e reúne línguas e pessoas tão
diversas.
Estavam em Jerusalém judeus vindos de
várias partes do Império Romano, judeus que não falavam mais o hebraico nem
conheciam o aramaico; e, no entanto, compreendiam o que os apóstolos falavam
como se fosse na sua própria língua. É o Espírito quem reúne o que está
disperso, é o Espírito quem conserva a unidade, é o Espírito quem, na unidade,
faz permanecer a rica diversidade das línguas, culturas e mentalidades, sempre
para a glorificação do Senhor Jesus! É o Espírito quem embriaga de alegria,
como um vinho bom, o vinho do Reino, o vinho novo de Caná da Galileia, que
tomou o lugar da velha água da Lei! É o Espírito quem impele a Igreja para a
missão, testemunhando Jesus pela proclamação da Palavra, pela celebração dos
santos sacramentos e pelo testemunho santo da vida dos cristãos que,
sustentados por este Santo Paráclito, são capazes de dar a vida por Jesus e com
Jesus.
Pentecostes é a solenidade que nos faz
retomar a consciência do papel e da missão do Santo Espírito na vida da Igreja
e na nossa vida. Sem o Espírito, a Igreja seria somente a “Fundação ou
Associação Jesus de Nazaré”, que recordaria alguém distante e que teria ficado
no passado. Sem o Espírito, a vida dos cristãos seria apenas um moralismo
opressor, tentativa inútil de colocar em prática mandamentos exigentes que o
Senhor nos deu. Sem o Espírito, a evangelização seria apenas uma propaganda, um
exercício de marketing.
Sem o Espírito, a nossa esperança seria em
vão, porque o que nasce da carne é apenas carne, e nossa alma e nosso corpo
jamais alcançariam a Deus, que é Espírito! Mas no Espírito, tudo tem sentido,
tudo se enche de profunda significação: com o Espírito, a Igreja é o Corpo vivo
de Cristo, no qual os membros recebem a vida que vem da Cabeça, a seiva que vem
do Tronco, que é Cristo; com o Espírito, Jesus está vivo entre nós e nós O
recebemos de verdade em cada sacramento que celebramos; com o Espírito, os
mandamentos podem ser cumpridos na alegria, porque o Espírito nos convence que
eles são verdadeiros e libertadores e nos dá, no amor de Cristo, a força para
tentar cumpri-los na generosa alegria; com o Espírito, a obra da evangelização
é testemunho vivo do Senhor Jesus, dado com a convicção de quem experimentou
Jesus; com o Espírito, já temos a garantia, o penhor da ressurreição, pois
comungamos a Eucaristia, alimento espiritual, que nos dá a semente da vida
eterna. (cfr. Atenágoras).
Que neste Ano da Esperança, com a
atividade concreta baseada na missão permanente em nossa Arquidiocese, todos
nós nos disponhamos a deixar-nos conduzir pela ação do Espírito Santo à
semelhança de Maria, cujo mês comemoramos! Temos a certeza de que veremos
acontecer maravilhas entre nós! Não tenhamos medo de acolher esse grande dom de
Deus em nossas vidas e deixar-nos conduzir por Ele: o Espírito Santo! “Vinde,
Pai dos pobres, daí aos corações vossos sete dons” (Sequência de Pentecostes)!
Orani João Tempesta Cardeal
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: http://www.cnbb.org.br/
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