Estamos nos aproximando do grande momento do Ano Litúrgico.
Participemos conscientemente deste momento fundamental da nossa fé.
A Semana Santa sobrevém à quaresma, mas tem desde o Domingo
de Ramos uma dinâmica própria, que começa com a recordação da entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém e segue, passo a passo, os acontecimentos de
sua paixão e morte, até sua ressurreição. Liturgicamente, isso é expresso
sobretudo no lecionário das missas, que contemplam o relato completo da paixão,
do Domingo de Ramos, da Sexta-feira Santa e de todos os demais acontecimentos
dos últimos dias de Jesus.
É a semana mais importante do ano para a Igreja, e seu cume
são os dias do tríduo que começa com a Ceia do Senhor.
O Domingo de Ramos é uma das missas mais concorridas do ano
litúrgico em nossas comunidades. A bênção dos ramos, a cor vermelha da
liturgia, o realismo da recordação evangélica da entrada em Jerusalém e do
relato da paixão, muitas vezes lido por várias pessoas, conferem a essa
liturgia um atrativo especial que a transforma em uma excelente ocasião de
evangelização.
O Domingo de Ramos pode ser chamado de abertura do retiro
anual das comunidades eclesiais. O dia litúrgico é um tanto sobrecarregado.
Chama-se hoje: Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Os mistérios evocados
são vastos. Talvez a 2ª leitura do Domingo, a carta de São Paulo aos Filipenses
2, 6-11, possa dar a chave para a compreensão dos dois aspectos: a Entrada
triunfal de Jesus e a Paixão. Cristo humilhou-se... Deus o exaltou. A certeza
da palma da vitória sobre o pecado e a morte em Cristo deve acompanhar os
cristãos na contemplação dos passos da Paixão durante toda a Semana Santa.
Na segunda, terça e quarta-feira da Semana Santa, a Igreja
contempla o Servo sofredor, aparecendo em figuras eloquentes como Maria
Madalena que perfuma o corpo do Senhor, Pedro e Judas. A Igreja prepara-se para
o Tríduo pascal.
A Quinta-feira Santa é de uma riqueza muito grande. Oferece
dois momentos. A Liturgia do Santo Crisma na parte da manhã em que,
profeticamente, celebra os sacramentos onde ocorre a sagrada unção: Batismo,
Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem. No mesmo dia, na Missa vespertina (Ceia do
Senhor), inicia o Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor. Celebramos
os mistérios da última Ceia: o novo mandamento, pelo lava-pés, a Eucaristia e o
sacerdócio ministerial. Tudo isso, pela entrega de Jesus para ser crucificado,
pela entrega de Jesus em cada Santa Missa, pela entrega dos cristãos pelo amor
fraterno.
Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, observe-se por toda a
parte, o sagrado jejum pascal. E, onde for oportuno, também no Sábado Santo até
a Vigília Pascal. Na Sexta-feira Santa não celebra a Eucaristia. Ela permanece
em jejum. Comemora a Morte de Cristo por uma celebração da Palavra de Deus,
constando de leituras bíblicas, de Preces solenes, adoração da Cruz e Comunhão
sacramental.
Em sintonia com o realismo litúrgico desses dias, sugere-se
sua celebração às três horas da tarde (15 horas), hora da morte de Jesus. Como
no Domingo de Ramos, também na Sexta-feira Santa, usa-se a cor vermelha e lê-se
o relato completo da paixão segundo são João.
A Sexta-feira Santa é dia de muitas manifestações da
religiosidade popular: em muitos lugares a via sacra percorre povoados ou
bairros inteiros, às vezes com encenação das estações e sempre com grande
participação dos fiéis; a procissão do Cristo morto é outro costume arraiado em
alguns lugares. As imagens de Cristo ensanguentado, o “homem das dores”, tem
sido um forte elemento de identificação para o povo mais simples e sofredor:
esse homem ferido e maltratado é o Filho de Deus vitorioso e ressuscitado.
No Sábado Santo, com início na Sexta, a Igreja celebra a
Sepultura do Senhor, sobretudo através da Liturgia das Horas, aguardando na
esperança a ressurreição do Senhor. A tristeza pela morte de Jesus, celebrada
no dia anterior, prolonga-se simbolicamente até a celebração da Páscoa. No
sábado celebra-se apenas a Liturgia das Horas diante do altar despido e da cruz
de Cristo.
A Vigília Pascal, na noite santa da Ressurreição do Senhor, é
considerada a “mãe de todas as santas vigílias”. Nela a Igreja espera vigilante
a Ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos. Por conseguinte, toda a
celebração dessa vigília sagrada deve ser feita durante a noite, de tal modo
que ou comece depois de iniciada a noite ou acabe antes da aurora do domingo.
A vigília pascal abre o terceiro dia do tríduo e o dia máximo
da festa do ano litúrgico. É uma celebração repleta de símbolos: o fogo do
início; o círio aceso nesse fogo e levado em procissão até o templo enquanto se
canta a aclamação “luz de Cristo”; o precônio pascal, obra-mestra da
literatura; a extensa liturgia da palavra, que percorre toda a história da
salvação; a celebração da iniciação cristã – se há –; a renovação das promessas
batismais acompanhada da aspersão com água benta; e, finalmente, a eucaristia,
que mais que nenhuma outra do ano é memória agradecida pelo mistério pascal de
Cristo.
O domingo da ressurreição tem, além disso, uma missa do dia,
na qual se canta bonita sequência pascal. Na vigília, nas missas da
ressurreição e em todo o tempo pascal o branco litúrgico simboliza o resplendor
da vida nova. O “Aleluia”, que havia sido calado durante a quaresma, volta a
ser cantado com renovada alegria a partir desse dia, especialmente durante o
tempo pascal.
O tempo pascal, chamado também de “cinquentena pascal”, é
formado pelos cinquenta dias que vão desde o domingo da ressurreição até a
solenidade de Pentecostes. Hão de ser celebrados com alegria e exultação como
se se tratasse de um só e único dia festivo, mais ainda, como um “um grande
domingo”. Dentro desse tempo tem especial importância: os oito primeiros dias,
a “oitava da Páscoa”, que se celebram como solenidades do Senhor; os seis
domingos depois da Páscoa; o dia da Ascensão do Senhor, que se celebra segundo
a data do livro dos Atos dos Apóstolos, no quadragésimo dia depois da
ressurreição; nos lugares onde não é preceito, essa festa é transferida para o
domingo; o quinquagésimo dia, domingo de Pentecostes.
Jaciel Dias de Andrade
Após essa breve reflexão, desejo à você, leitor, e todos seus
familiares uma excelente Páscoa!
Bibliografia Básica
CNBB, Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília, Edições CNBB. 2008.
BECKHAUSER, Alberto. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
Manual de Liturgia, CELAM, vol I: A celebração do mistério pascal – Introdução à celebração litúrgica. Trad. : Maria Stela Gonçalves. SP: Paulus 2004.